NOTA DE REPÚDIO E DENÚNCIA – Sobre o V Festival de Música de Fortaleza – Secretário Elpídio, ajuda de custo não é premiação. Chega de cinismo, indiferença, omissão na política cultural da capital!
Após cancelar três reuniões com o Sindicato dos Músicos do Ceará e o Movimento Música no Ceará, após não dar respostas concretas a 30 reivindicações do campo da música entregues em ofício à Secultfor e que aguardam desde junho de 2022, após anunciar programação de férias em julho de 2022 sem atrações cearenses, após adotar durante mais de dois anos de “gestão” uma permanente postura de cinismo, desfaçatez, omissão e indiferença diante dos sérios problemas da política cultural de Fortaleza e das inúmeras críticas da sociedade a essa situação, o ocupante do cargo de secretário de Cultura de Fortaleza, Elpídio Nogueira, médico e irmão do prefeito José Sarto, publicou recentemente vídeo no Instagram em que fala sobre “todos os participantes do V Festival de Música de Fortaleza serem premiados” atendendo a uma sugestão do Sindicato dos Músicos.
Aplaudindo todos os/as colegas participantes do festival pela resistência e desejando sucesso a todos/as, é preciso esclarecer desde já que ajuda de custo não é premiação, senhor secretário, além de lamentar que o festival, que todos os anos aconteceu no final de novembro e no começo de dezembro, tenha sido sem nenhum esclarecimento à população empurrado para o mês de abril. Na única reunião que aconteceu entre o secretário e representantes do Sindicato dos Músicos do Ceará – sim, a única, porque três outras foram canceladas unilateralmente e sem justificativa pela Secultfor – os músicos e músicas apresentaram várias reivindicações sobre o evento.
Entre esses pleitos, a necessidade de maior representatividade social, maior presença de mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+, em todas as equipes do festival, e maior representatividade estética, com um olhar mais amplo, diversificado e inclusivo para as diversas vertentes da cena musical cearense, extremamente plural, por definição. O Sindimuce ressaltou a existência de carta do grupo Mulheres da Música CE, apontando objetivamente que o espaço para as mulheres, nas edições do festival até então realizadas, era extremamente limitado, fosse entre os artistas, banda-base, júri, equipe técnica, equipe de produção etc., e reivindicando ações sérias para mudar essa realidade.
O sindicato levou ao secretário ofício fruto de seis meses de debates em reuniões semanais entre músicos e músicas, defendendo uma mudança de formato do festival, em busca de uma ação mais democrática, participativa e inclusiva, como uma mostra de música não competitiva, em que cada selecionado/a apresentaria uma ou mais canções, e todos/as os/as 30 artistas seriam premiados por igual, com o valor hoje destinado a premiar apenas três colegas. Valor que também poderia ser ampliado, para valorizar todos/as os/as participantes.
O modelo de festival, que remonta a um formato exaurido e que não dá conta dos desafios atuais, desenvolvido por emissoras de TV em São Paulo e no Rio de Janeiro nos anos 60, foi questionado. E o secretário não se mostrou disposto a revê-lo. Disse, ao fim e ao cabo, ser “decisão do secretário”. Apesar de todas as justificativas feitas pelos músicos, sobre precisarmos, neste momento de grave crise, de união, integração, ampliação de esforços, não de um evento “competitivo”, em que sejam dadas notas a composições e sejam comparadas músicas de gêneros e expressões tão distintas que tornam, conceitualmente, tarefa muito delicada apontar quais seriam “melhores”.
Nossa cena precisa não de concorrência e exclusão, e sim de projetos culturais capazes de semear fortalecimento conjunto, integração, espírito coletivo. 300 músicos se inscreverem (o que já não acontece, porque a péssima divulgação e o excesso de burocracia nesta edição levaram o número final de habilitados a despencar para menos de 70), 30 serem selecionados e apenas três serem premiados é uma forma de institucionalizar a exclusão como essência de uma ação do poder público. Quando deveria ser exatamente o contrário.
O Sindicato dos Músicos e o Movimento do Ceará cobraram o retorno da Mostra de Música de Fortaleza, que foi realizada anualmente em vários bairros, justamente em uma proposta de coletividade e união, e que já levou o nome de Petrúcio Maia. A Prefeitura argumentou dificuldades jurídicas para a utilização do nome desse grande compositor cearense, mas os músicos retrucaram que a mostra pode perfeitamente ser realizada com o nome de Tarcísio Sardinha, Izaíra Silvino, Luizinho Duarte, Lauro Maia, por exemplo. O secretário, porém, não pareceu demonstrar interesse. Sem negar concretamente, disse que iria estudar a sugestão com a equipe. Nenhum retorno até agora.
Ainda sobre o atual Festival de Música, o histórico do evento infelizmente é muitas dificuldades dos artistas participantes, inclusive dos premiados, pela falta de diálogo com a equipe do evento e com produtoras privadas contratadas para o Réveillon de Fortaleza (em que, em edições anteriores, o/a primeiro/a colocado/a no festival tinha direito de se apresentar, o que era vendido pela Prefeitura como um prêmio, mas se revelava na verdade uma armadilha e um estorvo, diante da desorganização, da falta de informações e de diálogo, do péssimo horário para apresentação, com o Aterro da Praia de Iracema vazio, da falta de divulgação, entre outros problemas).
Por esse motivo, na reunião citada pelo secretário em seu vídeo “lacrador” no Instagram, o Sindicato dos Músicos demandou a reunião de realizações prévias com a equipe de produção do festival, para buscar melhorias para a execução do festival em si. O secretário prometeu promover as reuniões. Não cumpriu. Faltou com a verdade.
O secretário também prometeu ampliar a divulgação do festival, hoje desconhecido pela quase totalidade da população de Fortaleza, e até por músicos e músicas, apesar de já chegar à quinta edição. Colegas compositores/as que vêm de outros municípios se surpreendem ao ver que ninguém – nem os motoristas de Uber, nem os colaboradores de pousadas, nem os garçons em restaurantes – tem conhecimento sobre o que deveria ser “o grande evento anual da música” na gestão Sarto em Fortaleza. A política pública fica extremamente restrita em seu alcance. Promessa igualmente descumprida.
Outra reivindicação apresentada foi a de que, além de o festival ser precedido por uma divulgação eficaz, outras ações fossem implementadas para dar consequência ao evento, ao longo de todo o ano, como shows de todos os artistas selecionados, apresentações em escolas, terminais, entrevistas aos meios de comunicação, oficinas, rodas de conversa, fazendo com que o festival fosse não um evento isolado e ignorado pela maior parte da população, e sim tivesse uma ligação de fato com a política para a música na cidade. E aí esbarramos em mais um problema: não existe, de fato, essa política.
Na mesma reunião, graças à importante sugestão enfatizada pelo colega compositor Paulo Araújo, veterano em festivais, conseguiu-se que ao menos a reivindicação de uma ajuda de custo de R$ 800, por música classificada fosse aceita pelo secretário. É essa ajuda de custo que, em seu vídeo, Elpídio chama “premiação”.
Não, senhor secretário! Ajuda de custo não pode ser “vendida” ao público como se fosse premiação. Objetivamente, isso é faltar com a verdade! Ajuda de custo é uma coisa; premiação é outra. O festival segue com prêmios apenas para os três primeiros colocados. Por favor, sejamos honestos ao falar ao público sobre tema tão importante quanto a política cultural e a grave situação enfrentada pela grande maioria dos trabalhadores da cultura de Fortaleza.
O Sindimuce e o Movimento Música do Ceará denunciam essa falsa comunicação feita pelo secretário e voltam a demandar que a Secultfor e a Prefeitura promovam reunião sobre a produção do festival. E deem respostas objetivas às reivindicações feitas sobre o evento e sobre outros 29 pontos relativos à política cultural de Fortaleza.
Vivemos uma situação de calamidade pública! O Ministério Público do Ceará já foi provocado sobre o tema pelos Fóruns de Linguagens. Parlamentares também estão cientes da situação, e audiências públicas deverão ser realizadas em breve. Temos um ano e oito meses dessa “gestão” pela frente, enquanto todos os dias colegas músicos/as expõem nas redes sociais a situação de grave emergência social. Precisamos modificar essa realidade. Precisamos de uma mudança de mentalidade dos que hoje estão em cargos em que deveriam zelar pela política cultural! Precisamos de ações efetivas. Agora e já!
NOTA DE REPÚDIO E DENÚNCIA – Sobre o Festival de Música de Fortaleza – Secretário Elpídio, ajuda de custo não é premiação. Chega de cinismo, indiferença, omissão e desfaçatez na política cultural da capital!
Após cancelar três reuniões com o Sindicato dos Músicos do Ceará e o Movimento Música no Ceará, após não dar respostas concretas a 30 reivindicações do campo da música entregues em ofício à Secultfor e que aguardam desde junho de 2022, após anunciar programação de férias em julho de 2022 sem atrações cearenses, após adotar durante mais de dois anos de “gestão” uma permanente postura de cinismo, desfaçatez, omissão e indiferença diante dos sérios problemas da política cultural de Fortaleza e das inúmeras críticas da sociedade a essa situação, o ocupante do cargo de secretário de Cultura de Fortaleza, Elpídio Nogueira, médico e irmão do prefeito José Sarto, publicou recentemente vídeo no Instagram em que fala sobre “todos os participantes do Festival de Música de Fortaleza serem premiados” atendendo a uma sugestão do Sindicato dos Músicos.
Aplaudindo todos os/as colegas participantes do festival pela resistência e desejando sucesso a todos/as, é preciso esclarecer desde já que ajuda de custo não é premiação, senhor secretário, além de lamentar que o festival, que todos os anos aconteceu no final de novembro e no começo de dezembro, tenha sido sem nenhum esclarecimento à população empurrado para o mês de abril. Na única reunião que aconteceu entre o secretário e representantes do Sindicato dos Músicos do Ceará – sim, a única, porque três outras foram canceladas unilateralmente e sem justificativa pela Secultfor – os músicos e músicas apresentaram várias reivindicações sobre o evento.
Entre esses pleitos, a necessidade de maior representatividade social, maior presença de mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+, em todas as equipes do festival, e maior representatividade estética, com um olhar mais amplo, diversificado e inclusivo para as diversas vertentes da cena musical cearense, extremamente plural, por definição. O Sindimuce ressaltou a existência de carta do grupo Mulheres da Música CE, apontando objetivamente que o espaço para as mulheres, nas edições do festival até então realizadas, era extremamente limitado, fosse entre os artistas, banda-base, júri, equipe técnica, equipe de produção etc, e reivindicando ações sérias para mudar essa realidade.
O sindicato levou ao secretário ofício fruto de seis meses de debates em reuniões semanais entre músicos e músicas, defendendo uma mudança de formato do festival, em busca de uma ação mais democrática, participativa e inclusiva, como uma mostra de música não competitiva, em que cada selecionado/a apresentaria uma ou mais canções, e todos/as os/as 30 artistas seriam premiados por igual, com o valor hoje destinado a premiar apenas três colegas. Valor que também poderia ser ampliado, para valorizar todos/as os/as participantes.
O modelo de festival, que remonta a um formato exaurido e que não dá conta dos desafios atuais, desenvolvido por emissoras de TV em São Paulo e no Rio de Janeiro nos anos 60, foi questionado. E o secretário não se mostrou disposto a revê-lo. Disse, ao fim e ao cabo, ser “decisão do secretário”. Apesar de todas as justificativas feitas pelos músicos, sobre precisarmos, neste momento de grave crise, de união, integração, ampliação de esforços, não de um evento “competitivo”, em que sejam dadas notas a composições e sejam comparadas músicas de gêneros e expressões tão distintas que tornam, conceitualmente, tarefa muito delicada apontar quais seriam “melhores”.
Nossa cena precisa não de concorrência e exclusão, e sim de projetos culturais capazes de semear fortalecimento conjunto, integração, espírito coletivo. 300 músicos se inscreverem (o que já não acontece, porque a péssima divulgação e o excesso de burocracia nesta edição levaram o número final de habilitados a despencar para menos de 70), 30 serem selecionados e apenas três serem premiados é uma forma de institucionalizar a exclusão como essência de uma ação do poder público. Quando deveria ser exatamente o contrário.
O Sindicato dos Músicos e o Movimento do Ceará cobraram o retorno da Mostra de Música de Fortaleza, que foi realizada anualmente em vários bairros, justamente em uma proposta de coletividade e união, e que já levou o nome de Petrúcio Maia. A Prefeitura argumentou dificuldades jurídicas para a utilização do nome desse grande compositor cearense, mas os músicos retrucaram que a mostra pode perfeitamente ser realizada com o nome de Tarcísio Sardinha, Izaíra Silvino, Luizinho Duarte, por exemplo. O secretário, porém, não pareceu demonstrar interesse. Sem negar concretamente, disse que iria estudar a sugestão com a equipe. Nenhum retorno até agora.
Ainda sobre o atual Festival de Música, o histórico do evento infelizmente é muitas dificuldades dos artistas participantes, inclusive dos premiados, pela falta de diálogo com a equipe do evento e com produtoras privadas contratadas para o Réveillon de Fortaleza (em que, em edições anteriores, o/a primeiro/a colocado/a no festival tinha direito de se apresentar, o que era vendido pela Prefeitura como um prêmio, mas se revelava na verdade uma armadilha e um estorvo, diante da desorganização, da falta de informações e de diálogo, do péssimo horário para apresentação, com o Aterro da Praia de Iracema vazio, da falta de divulgação, entre outros problemas).
Por esse motivo, na reunião citada pelo secretário em seu vídeo “lacrador” no Instagram, o Sindicato dos Músicos demandou a reunião de realizações prévias com a equipe de produção do festival, para buscar melhorias para a execução do festival em si. O secretário prometeu promover as reuniões. Não cumpriu. Faltou com a verdade.
O secretário também prometeu ampliar a divulgação do festival, hoje desconhecido pela quase totalidade da população de Fortaleza, e até por músicos e músicas, apesar de já chegar à quinta edição. Colegas compositores/as que vêm de outros municípios se surpreendem ao ver que ninguém – nem os motoristas de uber, nem os colaboradores de pousadas, nem os garçons em restaurantes – tem conhecimento sobre o que deveria ser “o grande evento anual da música” na gestão Sarto em Fortaleza. A política pública fica extremamente restrita em seu alcance. Promessa igualmente descumprida.
Outra reivindicação apresentada foi a de que, além de o festival ser precedido por uma divulgação eficaz, outras ações fossem implementadas para dar consequência ao evento, ao longo de todo o ano, como shows de todos os artistas selecionados, apresentações em escolas, terminais, entrevistas aos meios de comunicação, oficinas, rodas de conversa, fazendo com que o festival fosse não um evento isolado e ignorado pela maior parte da população, e sim tivesse uma ligação de fato com a política para a música na cidade. E aí esbarramos em mais um problema: não existe, de fato, essa política.
Na mesma reunião, graças à importante sugestão enfatizada pelo colega compositor Paulo Araújo, veterano em festivais, conseguiu-se que ao menos a reivindicação de uma ajuda de custo de R$ 800, por música classificada fosse aceita pelo secretário. É essa ajuda de custo que, em seu vídeo, Elpídio chama “premiação”.
Não, senhor secretário! Ajuda de custo não pode ser “vendida” ao público como se fosse premiação. Objetivamente, isso é faltar com a verdade! Ajuda de custo é uma coisa; premiação é outra. O festival segue com prêmios apenas para os três primeiros colocados. Por favor, sejamos honestos ao falar ao público sobre tema tão importante quanto a política cultural e a grave situação enfrentada pela grande maioria dos trabalhadores da cultura de Fortaleza.
O Sindimuce e o Movimento Música do Ceará denunciam essa falsa comunicação feita pelo secretário e voltam a demandar que a Secultfor e a Prefeitura promovam reunião sobre a produção do festival. E deem respostas objetivas às reivindicações feitas sobre o evento e sobre outros 29 pontos relativos à política cultural de Fortaleza.
Vivemos uma situação de calamidade pública! O Ministério Público do Ceará já foi provocado sobre o tema pelos Fóruns de Linguagens. Parlamentares também estão cientes da situação, e audiências públicas deverão ser realizadas em breve. Temos um ano e oito meses dessa “gestão” pela frente, enquanto todos os dias colegas músicos/as expõem nas redes sociais a situação de grave emergência social. Precisamos modificar essa realidade. Precisamos de uma mudança de mentalidade dos que hoje estão em cargos em que deveriam zelar pela política cultural! Precisamos de ações efetivas. Agora e já!
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