discurso do presidente na Câmara dos Vereadores

Associação Cultural Cearense do Rock: o que foi dito na Câmara Municipal de Fortaleza

Fortaleza 25 de agosto de 2017

“Boa tarde a todos e a todas,

Primeiramente gostaria de agradecer aos presentes pela homenagem aos 19 de nos de existência da Associação Cultural Cearense do Rock (ACR), sobretudo, ao gabinete da vereadora Larissa Gaspar, que vem atuando competentemente nas lutas e nas muitas demandas da cidade de Fortaleza. O espírito rebelde e juvenil da nossa companheira tem feito a diferença nesta casa política.

Em se tratando, da ACR da aniversariante de hoje, falemos um pouco da sua trajetória concebida no histórico Casarão Cultural, espaço de referência e resistência. Foi lá que iniciamos muitos sonhos e muitas lutas, tais como o projeto Sexta Rock, que resiste, acontecendo presentemente nos Jardins do Theatro José de Alencar. Foi lá também que nasceu o ForCaos, uma demanda histórica da Fortaleza dos anos de 1990, que parava em função de um único evento, deixando sem opções a juventude roqueira da nossa cidade. A partir de então: “Atrás do trio elétrico só vai quem quer!”

As lutas sociais e políticas também surgiram naquele Caldeirão Cultural. Práticas autoritárias oriundas da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) começaram ali a serem confrontadas. Foram muitos debates, audiências públicas, manifestações, mandados de segurança contra um agente que insistia em perseguir a própria classe. Diga-se de passagem, a luta valeu a pena!

Das lutas sociais também vieram experiências educacionais como o “ABC Digital”. O projeto de inclusão digital funcionou na “Rua do Fogo” no bairro do Monte Castelo congregando crianças e adolescentes daquele local e do entorno. Ali também nascia o “Calçadão da ACR”. Como diz o próprio nome, era uma calçada que recebia diversos grupos musicais da cidade. Destaco duas apresentações históricas: Jumentaparida e Facada.

As experiências educacionais não pararam. Depois do ABC Digital veio o Rock.Doc, projeto voltado para a formação de realizadores no âmbito do audiovisual. Jovens realizadores de Fortaleza e de Maracanaú participaram da ação educativa. Mais de duas dezenas de trabalhos, entre videoclipes e documentários foram produzidos, estando disponíveis nas redes sociais para serem acessados.

Além dos trabalhos musicais e culturais, o rock ganhou espaço na Academia. Desde os anos de 1998 aos dias atuais, foram muitas pesquisas de graduação, mestrado e doutorado gestadas a partir dos shows, das oficinas e dos processos formativos da aniversariante.

Apesar dos tempos difíceis e sombrios, onde prevalece o autoritarismo, a corrupção, a intolerância, a música, o rock, as lutas não deixaram de correr por nossas veias.
O ForCaos, nosso principal evento, chegou a 17 edições realizadas. São muitos percalços, dificuldades, mas também muitas alegrias. Durante a trajetória devemos destacar os antigos e novos parceiros, tais como: Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a Vila das Artes, o Theatro José de Alencar, o Centro de Treinamento de BMX do Pici e o Centro Cultural Patativa do Assaré. Estes locais foram fundamentais para que o evento ocorresse no ano de 2017. Destaco também o apoio das Secretarias Municipal e Estadual da Cultura.

Trabalhar com música, viver de música em Fortaleza e no Brasil, não é uma tarefa das mais fáceis. Se por um lado o estado brasileiro através de políticas públicas de cultura tem fomentado ações nesse campo, também impede que elas cresçam e se desenvolvam. Criar um edital de cultura, por exemplo, para incentivar o crescimento e o desenvolvimento do campo cultural na cidade, e depois não honrar o compromisso é angustiante para quem é selecionado. A velha máxima: “ganha mas não leva!”

No dia 1º de julho de 2009, o Governo Federal criou o Micro Empreendedor Individual (MEI), a fim de que os trabalhadores informais se legalizassem e principalmente para provar que o trabalho formal é muito mais rentável do que trabalho informal. A adesão dos trabalhadores informais, inclusive dos segmentos culturais é uma realidade comemorada pelo SEBRAE, Ministério do Trabalho e do Emprego e Secretarias afins.

No dia 21 de dezembro de 2011, a Câmara Municipal de Fortaleza, aprovou a Isenção de ISS para os artistas de Fortaleza. Na prática, os 5% dos cachês dos artistas antes descontados, não mais seriam. Muitos dos que estão hoje aqui neste auditório foram beneficiados pelas duas ações governamentais, inclusive, a pessoa que vos fala.

Entretanto, os benefícios não têm funcionado na prática, posto que os editais e programas culturais tem restringido a participação dos agentes, que por sua vez tem que estarem vinculados à uma Micro e/ou Pequenas Empresas. Ou seja, criou-se uma divisão entre os trabalhadores da Cultura, os “com empresa” e os “sem empresa”. A prática tem motivado um mercado paralelo de vendas de notas fiscais que vão de 10% a 15% do cachê recebido pelo artista. As contribuições do INSS, que contariam para a aposentadoria do trabalhador da cultura vão parar em outros locais. A prática estimula a sonegação de impostos previdenciários do trabalhador e do próprio estado. Portanto, o estado dando com uma mão e tirando com a outra.

E por fim, assistimos em nossa cidade, a luta entre músicos e fiscais do município de Fortaleza penalizados por uma lei antiga e atrasada, a chamada “Lei do Silêncio”. O debate é polêmico porque mexe com o sossego e a paz das pessoas que querem descansar, mas também mexe com o direito daqueles que sobrevivem da música. Da mesma forma que o estado oferece “autorizações especiais” para grandes eventos musicais e culturais que incomodam bairros inteiros durante dias seguidos, poderia dirimir com clareza essa questão das multas e das apreensões de equipamentos dos músicos. É preciso corrigir essa injustiça que vem tirando todos os dias o direito de muitos pais e mães de família de trabalharem com segurança. Muito obrigado e Fora Temer!!”

Discurso proferido por Amaudson Ximenes Veras Mendonça, presidente do Sindimuce e presidente da Associação Cultural Cearense do Rock (ACR) durante a Sessão Solene que homenageou a ACR pelos 19 anos de existência.